domingo, 28 de dezembro de 2008

DÚVIDA DE NATAL


É Noite de Natal em casa da família de origem.

O momento da troca de presentes vai chegar. Fico aflito à medida que vou antecipando o pouco à-vontade com que irei receber a prenda dela. E dar-lhe a minha. Que sensação estranha: sentir-me mal a dar e a receber coisas que quero dar e receber.

Em anos anteriores já houve algum incómodo. Mas este ano a encenação parece-me uma verdadeira fraude. A mim. Aos filhos. À família. Acho que não é a troca de presentes que me custa: é fazê-lo sem assumir a ruptura do casamento, instalada há tanto tempo. A verdade é que eu vivo uma desunião de facto.

Olho os filhos vezes sem conta: misturam verdadeira alegria com um nervoso miudinho, acho que: nostálgicos dos tempos do Pai Natal em que pai e mãe, cúmplices, faziam natais mais sinceros e mais verdadeiros enquanto festas da família; cúmplices dos pais na encenação em curso. Simplesmente horrível: isto não é educar.

Comecei a interrogar-me até que ponto não será um gesto de amor aos filhos acabar com uma situação que os abala imenso, abdicando de viver na casa deles.

Abdicar é diferente de abandonar: penso num abdicar como uma renúncia generosa, com sentido de perda pessoal mas para bem dos outros (dos filhos).