quinta-feira, 30 de outubro de 2008

"AJUDAR" OU "COLABORAR" ?

Ás vezes, dá vontade de as "ajudar" assim.
É recorrente ouvir-se uma opinião muito politicamente correcta alinhada com as seguintes frases: os homens ajudam pouco ou nada as mulheres no trabalho de casa; sobre elas recai o trabalho doméstico exercido em simultâneo com a profissão; os homens chegam a casa com o objectivo de se sentar em dois lugares: primeiro à mesa e depois em frente da televisão.

● A luta das mulheres pela igualdade teria conduzido, nesta perspectiva, a um resultado menos igualitário: elas lutaram pela igualdade (p. ex., pelo direito ao exercício de uma profissão) mas tiveram de acumular as antigas com as novas responsabilidades.

● Percebo o alcance deste pensamento e penso que ele está ainda muito enraizado na sociedade portuguesa. Muito, mas não completa nem esmagadoramente presente. E já é tempo de enriquecer o discurso vigente com as novas realidades: a dos maridos e pais que gostam e querem participar nas actividades de casa.

● Digo participar e não ajudar. Essa é uma diferença fundamental. E que, em meu entender, denuncia alguma hipocrisia naquele discurso politicamente correcto. De facto, pergunto: é impressão minha ou as esposas não dizem mesmo que elas ajudam os maridos em casa? Soa mal dizer isso, não soa? Pois, encarando o casamento moderno numa óptica de igualdade, também me soa mal ouvir dizer que é o marido quem ajuda a mulher. Ou há moralidade ou a desigualdade é para os dois lados...

● Mas o termo ajudar permanece nos casamentos "modernos"... Porquê? Acho que às mulheres custa perder um certo protagonismo em casa. Ao fim e ao cabo, ser responsável pela lide doméstica dá poder: como se organizam as coisas, como se educa os filhos, etc. Ter o marido a ajudar nisso é uma coisa; participar nisso com o marido é outra coisa.

● Se o casamento funciona mal e se o homem adoptar a postura de querer participar das tarefas domésticas, tal será uma inevitável causa de atritos. E cada vez mais há homens que o querem, que gostam de cozinhar, de tratar dos filhos, de fazer compras, de organizar os espaços e os horários, etc. Isto trás ao de cima o peso da tradição matriarcal: as mulheres acham-se com uma legitimidade e uma competência melhores para tratar de tudo isso e simplesmente não o consentem (de forma directa ou indirecta): quem se queixava por o marido não fazer nada, agora estimula-o a tal, recorrendo (se for caso disso) a outras ajudas (mãe, irmãs, vizinhas, amigas…).

● Para o homem isto é desesperante e quase seguramente uma batalha perdida.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

F(r)ASES - 1

A esperança não é a última coisa a morrer.
É a primeira que nasce quando tudo parece perdido...

OLHA PARA O QUE EU TE DIGO.

  • Hoje, outra vez de novo as coisas do costume. Que de novo não têm nada, amanhã vão voltar a ser assim.

  • O que eu faço, faço mal. “Aquela” tarefa faço do meu jeito? É porque não quero aprender a fazer melhor. Se eu fosse razoável, se visse as coisas com olhos de ver, sem medos, com abertura, com sentido crítico…, já tinha tirado uma conclusão: ela faz isso de uma maneira muito melhor.

  • Quero ter a minha liberdade de opção, o que não é igual a rejeitar à partida as opiniões dela: “a minha maneira de pôr a mesa é diferente da tua? Percebo a diferença, mas gosto da maneira como eu a ponho…”. Às vezes nem é o resultado final da tarefa que está em causa, mas a sequência das operações que são feitas…

  • Com o tempo fui-me sentindo a ser transformado num mero apêndice da cabeça dela, um robot acrítico que fazia o que lhe diziam: “faz como te digo”, “faz agora”, “desculpa interromper”, “logo à noite vai…”, “já te disse que…”, etc. Numa certa altura, ser feliz implicou ter mais respeito pelos meus gostos, pelas minhas preferências, pelas minhas liberdadezinhas, por não ter medo de, às vezes, não fazer o que e como ela queria.
  • Não quero uma vida mecanicista, em que tudo se limita ao “ser mais operacional”, “mais económico”, “mais saudável”, “mais racional”, “mais óbvio”, mais tudo menos mais satisfatório para mim. Porque me dá menos prazer. Porque não se torna natural para mim. Porque sistematicamente contraria os meus ímpetos, levando-me a um permanente estado de conflito interior e de desgastante autocontrolo.
  • Durante algum tempo afastei-me de algumas tarefas. Para evitar conflitos. Mas isso não me fez mais feliz. Decidi voltar a fazê-las. Gosto disso, preciso disso. Luto pelo meu espaço, luto por mim, pela pessoa que sou.
  • Isso fez voltar os mimos antigos: “não estás a ser razoável”, “não sabes ver as coisas”, “estás cheio de medos que te paralisam a capacidade de evoluir”, “não tens abertura aos outros”. É difícil lidar com atitudes destas. E amanhã vou voltar a ouvir tudo isso, quando for …