domingo, 17 de maio de 2009

F(r)ASES - 7


"As mulheres combatem nos filhos os defeitos do marido." (Carmen Sylva)

É uma opinião simplista e redutora. Mesmo quanto "as coisas" correm mal, as mulheres, enquanto esposas e enquanto mães, são seres excepcionais a muitos níveis.

É uma opinião ambígua. O que é um defeito? Qual a fronteira entre "defeito" e as "coisas que ela não gosta nele"? Que fronteira tão ténue: ser calado e reservado é defeito?

Aquela frase é apenas uma citação, fora do seu contexto. Mesmo assim, não me revejo nela. Porque as coisas não são assim. Mas quando acontece serem assim, instala-se um triângulo relacional irrespirável: mãe <--> filho <--> pai.

Diz a Mãe
- "Não podes serem calado como o teu pai". O que procura verdadeiramente a mãe com esta abordagem, mesmo que não a explicite tão claramente e seja mais subtil na forma de actuação? Que o filho seja quem é? Ou que o filho não seja como ela não quer que ele seja? E qual o resultado: apenas confusões e revoltas ou algo de mais positivo?

O Pai
. Como se sente ele, comentado assim perante o filho? É possível não ver no comentário um ataque à sua personalidade? Ele, que conhecerá melhor do que ninguém, as razões para ser calado com a esposa, como sentirá a pressão feita sobre o filho? Angustiá-lo-à a possibilidade de o filho vir também a ser arrastado para um mar de silêncios?

O Filho
. Talvez encontre alguma justiça no comentário: bem sabe que a mãe sofre com os silêncios do Pai. Talvez intua alguma injustiça no comentário: bem sabe que o Pai sofre com a pressão da mãe. Confuso? Não: as crianças têm todo o direito a terem os pais que amam mas vistos pelos seus olhos e não pelos olhos de outros. Eu gostava de ver a Amazónia ao vivo, mas não sinto graça nenhuma quando ouço, alguém que lá foi, a contar-me como é...

sábado, 9 de maio de 2009

F(r)ASES - 6

"Sabendo fiar, não desperdices fio; sabendo falar, não desperdices palavras" (Provérbio do Laos)


Há tanta gente em tantos lados a saber tanto sobre esta coisa tão simples. Mas há tanta gente em tandos lados a fazer tanta asneira com as palavras... Há tanta gente arrependida do uso que deu a uma palavra. Infelizmente, arrependermo-nos de termos usado uma palavra não é exactamente o mesmo que nos arrependermos de termos usado fio a mais...

Sim, somos capazes de ver o desperdício material: na comida que fica no prato; na roupa que não usamos; nos montes de sacos de plástico das compras; na água do banho; etc. Nisto tudo, o desperdício salta à vista. E somos sensíveis a ele.

Mas não somos capazes de notar o desperdício de palavras. Ditas a mais, sem necessidade. Sem utilidade. Sem sentido.

Os lixos, restos dos nossos desperdícios materiais, são reciclados, reaproveitados.

E o que é que acontece às palavras que desperdiçamos? Ficam a acumular-se, como lixo, dentro de quem as disse e de quem as ouve. É muito difícil reciclá-las e voltar a dar-lhes uso.
Palavras feias dificilmente voltam a entrar na moda como a roupa velha.